A MOSCA DA SOPA...
Num tempo que está construído fundamentalmente pela presença e supremacia do eu, levanta-se neste livro “Um poema para Raul” de Manuel Hélio, uma voz que conclama a todos para deitarmos olhos para o nós!
Ainda mais, se levarmos em conta, que esta obra cumpre o papel da arte; repercutir sensações, pensamentos a partir de um contato com a arte, espelho que reflete a nossa imagem, em que podemos ver e sentir refletidas muito das sensações de outros, contemporâneos ou distantes de nós, mas que são de alguma forma a base de sustentação do que somos, do que seremos, e na pior das hipóteses do que seriamos...
Assim, este “Um poema para Raul”, reflete a um só tempo a admiração de Manuel Hélio pela obra de Raul Seixas, como também dá conta de pôr à mostra o próprio poeta, que mesmo quando está ressentido, magoado, doa-se a outros através de seus poemas...
A arte de um passa pelo filtro sensorial do outro, indo desembocar em variados poemas, com cargas emotivas e sensoriais multiformes... Engrandecendo-se e particularizando-se, e tornando-se terreno fértil para que as experiencias de seus leitores possam também se expressar!
Assim, Manuel Hélio, comporta-se como a mosca de nossa sopa, no sentido de que explicita o estranho, o novo, o intangível, presente em nós mesmos, que em outros tempos deixaríamos passar...
Em outros momentos deste livro, “Um poema para Raul” podemos encontrar um Manuel Hélio que está interessado, preocupado até, com aquilo que é a essência de um ser humano; o seu universo interior, seus sentimentos, suas vontades que o posicionam diante do homem histórico que é imperioso que seja...
Nestes poemas Manuel Hélio, é tanto coração, quanto alma!
Noutras passagens desta obra, o eu lírico do poeta lança mão de contar uma História... Desnuda o próprio poeta, e ao leitor atento apresenta o homem que apenas munido com palavras tenta compreender, ressignificar, o próprio mundo em que vive, e o tempo em que sente o que é, e rascunha o que será...
Assim, neste tempo conturbado, com tantas e quase infinitas contradições, este “Um poema para Raul” de Manuel Hélio, é muito bem-vindo e necessário, pelo que enternece, acalenta, abraça, irmana...
Que pare este mundo pois eu quero descer! - Se não puder encontrar nele o amor, o carinho e a fraternidade que vão impressas nas entrelinhas destes poemas de Manuel Hélio neste “Poemas para Raul”.
Antes, bem-vinda esta mosca na minha sopa, por mostrar como bela, quão significativa uma vida pode ser...
E assim, como desejaria ser o carteiro que entregaria este “Poema para Raul” só para ver a alegria estampada em seu rosto, digo isso porque teve momentos em que pensei que o poema era para mim...
Assim, faço o convite; leiam este "Um Poema para Raul” de Manuel Hélio... Certamente em algum momento o poema lido, falará de e para você!
E neste momento, pela maestria do poeta e pelo encanto das poesias, caro leitor, este livro, por fim terá sido escrito e endereçado a você!
- E a cada leitura, e a cada novo leitor, como nas músicas de Raul Seixas, iremos percebendo que este poeta Manuel Hélio, falando de si, falando a outro, deu voz a todos nós!
E talvez até sintamos que o universo é apenas um ponto no infinito, como diz o poeta, mas que ele, o infinito,sem a nossa presença não é o mesmo, posto que começa em cada um de nós!
Edvaldo Rosa
Poeta e escritor de SP.
Edvaldo Rosa
Enviado por Edvaldo Rosa em 24/06/2021