AS COISAS DA VIDA – 1957 – 2017 A VIDA DAS COISAS, Manuel Paulo
Manuel Paulo é um poeta português, que a vida e as letras trouxeram ás lentes de meus olhos, em um evento da Editora Delicatta, de sua autoria tenho em mãos alguns livros, e hoje o alvo de minhas considerações é este “AS COISAS DA VIDA – 1957 – 2017 A VIDA DAS COISAS”.
Tomo interessante já na apresentação da capa, onde duas silhuetas olham para direções diferentes, sendo cada uma distinta da outra, embora tenham um ponto em comum...
Quanto ao titulo, remete a passagem do tempo, embora evoquem diferentes pontos de vista; o que seriam para este poeta lusitano as coisas da vida, vistas a partir de 1957, e o que seriam a vida das coisas em 2017?
A leitura desta obra é para mim prazerosa, pois os poemas que se apresentam calam dentro de mim como se fossem meus, poemas escritos pelo labor da memória, que guarda momentos vividos pelo autor, com o frescor dos tempos idos, em que foram produzidas marcas no seu coração e alma, escoadas agora através da publicação deste livro, e ecoadas aos quatro cantos do mundo através de sua divulgação...
Mundos estranhos a si mesmos o vivido por Manuel Paulo e o meu aqui em São Paulo, e mesmo assim tão parecidos, pois as coisas da vida evocadas por este vate lusitano são aquelas que também me formam: a família, a casa paterna, a cidade, e seus mistérios diante dos olhos do petiz que vai se formando, e no outro extremo da proposta do livro, a vida das coisas filtrada pelo olhar sexagenário, já calejado e vivido...
Assim, neste “AS COISAS DA VIDA – 1957 – 2017 A VIDA DAS COISAS” de Manuel Paulo, temos uma amostra do poder da palavra, que manuseada com maestria e precisão dão aos leitores da obra a sensação de pertencimento... Os poemas são de Manuel Paulo, poeta português, mas falam aos corações de seus leitores, funcionam como espelhos, que guardadas as devidas proporções, refletem também os leitores, posto que evoquem neles as próprias memórias...
E quanto encantamento pode ser encontrado nestes trabalhos poéticos de Manuel Paulo, e ao mesmo tempo, durante a leitura dos mesmos, em nós?
Numa introdução sucinta Manuel Paulo diz:
60 anos. A passagem das Coisas da vida á vida das coisas foi a fração de tempo dum pestanejar. Os olhos, os mesmos. Anseios, iguais. Promessas sumidas. As crenças tais quais. Se tantos se foram, quanta nova gente partilha comigo o que cada um possui só de seu.
Não é o que ocorre conosco também?
No mais, sem adentrar abusadamente no livro, para não estragar a leitura daqueles que deitarem olhos sobre os poemas desta obra, destaco o poema “Minha mãe. Todavia estavas lá”, pelo lirismo, pelo encantamento... Pela comunhão de almas que só a união entre mães e filhos pode ocasionar.
O poema “E pensei num cesto repleto de promessa” que aponta para um momento mais maduro, Manuel Paulo remeteu meu pensamento á Nietzsche, quando diz que o homem é a sua história, e que tem momentos em que devemos encará-la de frente, cara a cara, de peito aberto, sem medos ou reservas... A partir deste poema pensei também em Sartre e o seu “A idade da razão”.
Filosofias a parte, Manuel Paulo é uma leitura para mim agradável e profunda, com poemas que denotam um universo particular e único, com conotações abrangentes, tanto que evocam das minhas profundezas o que há de bom em mim, e as minhas mazelas quase esquecidas...
Assim, parafraseando a introdução deste “AS COISAS DA VIDA – 1957 – 2017 A VIDA DAS COISAS” de Manuel Paulo, digo, o que Manuel Paulo tem de só seu, hoje pela leitura de sua obra, também é meu...
Resta-me por alento, que no meu momento de reflexão sobre a minha própria vida, eu possa relembrar as palavras deste vate admirável... “O tempo passou. Das Coisas da Vida só uma mudou. A vida que a Vida ganhou.” E que em meu caso particular o saldo seja positivo! Pois, como já foi dito por Vinicius Torres Freire, colunista da folha, em apresentação da obra de Nietsche, ”É impossível levar uma vida ativa, com sentido e confiança no futuro, sem a capacidade de esquecer e, no momento oportuno, lembrar”.
E para mim, neste “AS COISAS DA VIDA – 1957 – 2017 A VIDA DAS COISAS”, Manuel Paulo faz um resgate de tudo o que lhe constitui e que tem profunda importância para si.
A poesia de Manuel Paulo, mesmo a que está diretamente ligada á sua memória, evoca como já disse o melhor em mim... E atiça esperanças adormecidas, de que a poesia, como um todo, possa despertar em seus leitores, o amor e a alegria pela vida! A vida no geral, e em particular a que define a si mesmos...
A poesia de Manuel Paulo tem este efeito sobre mim!
Quanto deste tempo, mensurado aqui, neste “AS COISAS DA VIDA – 1957 – 2017 A VIDA DAS COISAS”, Manuel Paulo, é real, quanto é imaginação,
quando o que se apresenta a nossos olhos é poesia pura?
Edvaldo Rosa
www.sacpaixao.net
23/04/2020