HOMENS ESTRADAS, HOMENS PONTES E HOMENS ILHAS...
De surpresa foi realizado um reencontro, duas porções de uma mesma história, foram postas frente a frente...
E quantos brilhos nos olhos!
– Quem sabe quantas luzes resplandeceram nos aposentos de velhas mentes, empoeirados pelo correr dos anos!
Ao redor das duas velhas senhoras, filhos, netos, genros, numa conversa animada eram espectadores a tudo atentos...
Dois primos, dois homens agora, se alfinetando como antes; petizes afogueados, que corriam no apertado de um apartamento da Rua José Paulino, SP, desviando dos encanamentos...
-Meu tio era zelador do prédio e sua morada era no último andar, onde existiam alguns equipamentos hidráulicos...
E no trançar das conversas paralelas, foi um desfile de memórias...
O tal do macarrão grosso, que todos aparentemente odiavam, mas de que todos se serviram em visitas esparsas á casa do tio Arvelino, que morava distante!
E nas memórias agora tão acesas, os caminhos desnivelados das estradas por onde encaminhavam os nossos corpos de meninos e meninas, puxados pelas mãos de nossos pais exasperados...
Um caminho era a linha do trem, entre montes e matas, outro era um tal de morro, que visto de baixo era bem alto e nunca acabava, mas que se vencido, era lá do pico, que se avistava ao fundo a casa a ser visitada!
A mulher do tio Arvelino era a Nica, pequena em estatura, mas que a simpatia e a generosidade agigantavam... Mas, o tal macarrão grosso, no qual qualquer molho atravessava é que era um problema...
- Da vez em que eu reclamei, lembro ainda que recebi uma palma aberta na cara!
Noutro instante, conseguinte da conversa animada, era o jardim da Luz o palco da história a ser relembrada... E de minha parte um aparte... Foi nele que me deitando sob a copa de uma árvore fui banhado por inúmeras lagartas verdes, ou animais que o valha!
Outro instante, que me vem á memória, era o de crianças correndo nas escadarias do prédio, ou no elevador apertando todos os botões de andar ali existentes...
Quanto ás velhas senhoras, no seu entrelaçar de lembranças, a conversa era mais particular e confidente...
Veio o jantar...
Eu, a visita inesperada fui na frente...
– Parentes carecem de serem educados, mas também não devem pecar por certas cerimônias...
Após, o café, de coador de pano, forte, quente!
Após, alguns comentários a mais, sobre outros primos e primas, tios e tias, figuras esmaecidas nas paredes de nossas mentes... – Ou estes comentários vieram antes?
Pessoas podem ser tudo na vida, podem ter tudo na vida, mas se não existirem laços, serão como ilhas no mar, uma das outras distantes...
Por muitas e muitas vezes pessoas são caminhos, por onde transitam outras, e nesse ir e vir constante criam-se famílias, lares, amizades, inimizades... Noutras oportunidades pessoas são pontes, que ligam pontos de partida/de chegada, para os passos dos viventes...
Se pessoas não fossem assim, dadas umas as outras, qual o valor da vida, antes que ela esmaeça e nos retorne ao grande Nada?
E hoje, quebrar as correntes tecnológicas, PCs, smatfones, ou aplicativos que os valha, não é dar um tom de humanidade ás nossas vidas tão automatizadas?
No mais, a visita inesperada, fora de hora á casa no Morro Grande, reaproximando duas velhas senhoras, uma que a mente parece que o tempo esgarça, e a outra que faz de um tudo para estar inteira, foi apenas um mote... Uma desculpa!
Ao ir tê-los comigo, em momentos de encantos pareados, fui ter era comigo!
Fui reencontrar-me com momentos em que tudo era sonho, em que tudo era possível, em que não sentia o peso do correr dos anos, da dor e da alegria do amor, e os desafios a serem enfrentados...
Fui á momentos em que nem passava pela minha mente que tudo o que faço ou fazemos é repetir morro acima, no decorrer de nossas vidas, o desafio de Sisifo!
Mas, se isto acima exposto, seja de um exagero ou de certo mau gosto, ante as lágrimas sob o cristalino de meus olhos, cumpre a mim deixar bem claro:
- Este reencontro foi um trançar de duas pontas de uma história, que formando um laço, transfigurou-se num abraço que de tão apertado quebrou pelo menos em mim certas, cristalizadas, enraizadas memórias...
E bem dentro do meu coração de homem ilha, ecoa em auto e bom som: Você também é homem estrada, você também é homem ponte, pois você tem, pois você é História!
- Não seria bom, se cada um de nós ficasse alguns instantes frente a frente consigo mesmo?
Que se reconhecessem homens estradas, homens pontes, que percebessem que todos nós somos iguais, mesmo com tantas dessemelhanças aparentes?
Não é estar em contato com os outros, que faz com que não nos sintamos sós?
- Apenas uma ressalva, respeito! - Ao adentrarmos uns nas vidas dos outros é de muito bom tom tirarmos os nossos sapatos!
Edvaldo Rosa
www.sacpaixao.net
13/01/2020
Edvaldo Rosa
Enviado por Edvaldo Rosa em 13/01/2020
Alterado em 13/01/2020