BIO NORDESTINAGEM
Carlos Silva
Quem sou eu seu moço?
Sou um turista forçado na bancada de um pau de arara, despejado por aqui ha muitos anos atras, quando o frio cortava feito navalha quem de muito longe trazia uma camisa "volta ao mundo", e um monte de sonhos perdidos num matulão improvisado amarrado com imbiras colhidas no serrado.
Quem sou eu seu moço?
um dormidor por sobre sacos de cimento, para fazer a tua luxuosa morada.
Sou aquele, que com alcool numa"espiriteira"improvisada aprontava a gororóba amarga e tão longe de ser considerada uma verdadeira refeição merecida, após um exaustivo dia de labuta.
A sobremesa, era uma banana mergulhada na farinha para dar maior sustento.
Sou um equilibrista nos andaimes da vida lutando para o destino não me lançar ao chão da discriminação.
Sou aquele, que por descaso ou deboche, tu me chamavas de baiano, sem nem se quer saber a minha naturalidade.
De onde eu vim,tem mais oito estados empobrecidos(aos teus olhos) pela riqueza de quem tanto lhes exploram.
Sou aquele, que construiu a tua casa, mas que hoje, nem na calçada atrevo-me pisar.
Não posso queixar-me tanto; pois me lembro que Jesus (O Santo filho de Deus) era carpinteiro e só pregava o amor e a bondade.
E, numa cruz amadeirada pelo Homem, foi crucificado,humilhado e morto.
Mas doutor, em cada vão da tua casa tem um dedo meu, uma gota de suor caida,uma lágrima que lavou minha saudade, ao lembrar de quem bem longe, um certo dia (carregado de ilusões) para traz deixei.
Eis-me aqui doutor, humilde, mas sem aceitar humilhação sua ou de qualquer um desses teus amigos que acham que cabras como eu, nasceram apenas para te servir.
Trago orgulho da minha NORDESTINIDADE, Escrevo a minha NORDESTINOGRAFIA como forma de Brasilidade,Pois toda NORDESTINOLOGIA, hoje ensina a quem nunca se ligou para aprender o que é ser Brasileiro de fato.
O meu NORDESTINAMENTO doutor, é forte descrito por Euclides da Cunha ao acompanhar de perto, o massacre covarde de um povo.
E devo lhe dizer: No mundo, não há NORDESTILOGRAFO mais inteligente, que o matuto que planta em terra dura, o sonho do seu proprio sustento, e que não está nem ai para o que o senhor pensa dele.
PS, Não pretendo conquistar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, mas meu tamborete no varandado da minha casa ninguém tem o direito de sentar... SÓ EU.
Carlos Silva