Na Nau da Alma dos Poetas Quero ser a navegante antiga E a passageira de primeira viagem; A que se guarda taciturna na cabina E a que se expõe gaiteira no convés.
Quero me abandonar aos versos sem desvelo, Deixar que me redefinam as feições do rosto, Que a melodia das sílabas brinde meus ouvidos, Que as estrofes se espalhem sobre meus cabelos, Que pousem nos meus olhos e me subjuguem os sentidos.
Quero devanear entre imagens pintadas com letras, Fotografadas na retina de corações garimpeiros, Fantasiar paisagens que não vi e cenas que não vivi... Invejar as musas que geraram versos, Amar os vates que os escreveram.
Quero fazer o contraponto dos ritmos e rimas, Dos versos brancos e (des)encadeados, Dos haicais, rondós e redondilhas. Ser o alaúde, a flauta, a lira, o acordeão, o violino Na partitura de uma poética trilha.
Quero ser a cantora, a atriz, a bailarina, Ser a platéia, a amante, a diletante, Ser as mãos, as vozes e as lágrimas Que ovacionam os versos E aclamam os poetas.
Venha, poesia! Seja a cadeira cativa dos meus dias.