O Pingo se foi..
E entre lágrimas uma triste verdade, o Pingo se foi...
Vinte anos depois, ele não mais acordaria o meu amigo, com seus latidos, com suas lambidas, com sua corrida desesperada ao prato de comida ou à porta da sala, quando da chegada de seus donos...
Agora é só silêncio e mais nada!
Disse-me cabisbaixo, o meu amigo: - Meu pequenino não vai mais para a muralha da china...
Em silêncio, pensei com meus botões... Mas ele vai! Ah! Vai...
Em suas memórias o Pingo, estará sempre vivo, empreendendo as suas corridas, latindo de fome e de alegria, lambendo as faces de seus donos, seus amigos, seus pais!
E no coração de todos, sempre crepitará aquela velha chama, tão conhecida, nascida logo ao primeiro encontro, na primeira troca de olhar...
Empatia!
Fiquei pensando em como são estranhos os caminhos da vida, Deus coloca a nossa frente tantas maravilhas, às vezes ocultas em coisas suntuosas, e noutras em outras tão simples.
Se é que uma vida é menos suntuosa do que simples!
Imaginei quantas pessoas tem a sua frente tudo aquilo de que precisam para seguir com a sua caminhada, e nem se apercebem disso...
Quantos na falta de um contato humano não se apegam a coisas... E esquecem os animais...
Quantos não confundem amizade e respeito, com coisas de aparências, e se esquecem do que pode ser mais importante, um contato, um carinho, meigo e franco!
Um latido espontâneo, ao invés de uma conversa forçada...
Um comportamento vivaz e não mecânico e insoso...
-Meu pequenino não vai mais para a muralha da china, disse-me quase em prantos o meu amigo... Que vá as favas a muralha da china e os seus milhares de anos...
Ela é um amontoado de pedras quase inertes... Matérias quase amorfas... Quase mortas... Que nunca irão despertar nele o que despertará vez e outra as lembranças de seu Pinscher...
Amizade!
Contou-me o amigo, que em épocas passadas, quando a idade não pesava nas costas do Pingo, fizeram juntos algumas viagens, conheceram novas paragens...
Agora os amigos se desgrudam um pouco, seguem aparentemente caminhos diversos, mas será que neste universo criado por Deus, as almas não se encontram?
Ou haverá algum louco que dirá que os animais não as têm?
Sei, apenas que meu coração sentiu o peso da perda de meu amigo... Afinal, quantas perdas em minha vida já não computei...
Teve o caso de meu pastor levado pela carrocinha, e eu ainda criança, sem forças para fazer algo, apenas chorar e gritar...
Teve o caso do Trovão, um meu vira latinha, que na porta de minha cozinha, morria, sem que eu nada pudesse fazer... Ou a quem apelar!
Meu Deus como doe estas perdas... Feridas abertas, que custam em cicatrizar!
Estas amizades construídas com certa inocência, são bem mais profundas, são bem mais agudas, do que algumas que entre as pessoas se fazem brotar.
São amizades baseadas na simplicidade, na reciprocidade, na existência de necessidades que dinheiro algum pode comprar... E isentas de obrigatoriedades...
Amor!
Assim, a vida que anima pessoas e animais, cumpre o seu ciclo, com inicio, meio e fim... Embora, eu particularmente pense que ela não finda não... Transforma-se!
Morrer é assim renascer para outra realidade!
Que vá às favas as muralhas da china!
Que seja acompanhada a este degredo as aparências, as falsidades, as mentiras, os egoísmos... Que me chamem de louco, que digam que divago que gritem que eu mais amo animais e menos as pessoas... Não se trata disso... Mas sim, da verdade nos relacionamentos, na entrega entre entes viventes, que mesmo distintos tem os seus sentimentos e sensibilidades!
Ver as lágrimas nos olhos de meu amigo, ninguém viu!
Sentir o tom de sua voz, ninguém sentiu...
Respeito!
Quantos de nós não precisam aprender com a simplicidade?
Quantos não necessitam sentir as vibrações de uma verdadeira amizade?
Quantos não precisariam ser menos humanos e mais animais?
Quantos não precisariam ser mais humanos, compreensivos, racionais, tolerantes, inteligentes, e menos bestas soltas a esmo, passando por cima de todos a sua frente?
Sei que me dirão que me atrapalho que troco as bolas, escrevendo aqui muitas bobagens... Que seja!
Tudo é sentimento de alegria e perda! Inconformismo pela inconstância da vida... Já que tudo muda... Por mais que saibamos que sempre foi e será assim...
Mas comigo trago uma fé, que me dá a certeza, onde quer que meu amigo vá o Pingo estará com ele, mordendo a sua canela, latindo na sua chegada, chorando na sua ausência...
Andará com ele, estará com os seus, pois será uma constante presença, alegre, feliz e vivaz...
A lembrança constante do Pingo, ainda será uma prova inconteste, das maravilhas criadas por Deus...
Muitas delas escondidas na inocência... Atreladas em grandes significados...
E são mais permanentes do que as tais muralhas da china, estes sentimentos de amor,de carinho e cumplicidade, embalados nas saudades...
E os levaremos sempre conosco, aonde quer que estejamos!
E que sempre serão partes integrantes da nossa própria eternidade!
Edvaldo Rosa
15/06/2011
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PS: Imagem meramente ilustrativa retirada da net - google em 17/06/2011 ás 17:53
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