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Textos

SERTÂNIA

                   Carlos Silva

                                                IN : http://www.carlossilva.com.br 


Lembrançando na solidão do meu estar sozinho, é que eu arranquei do meu juízo estonteado a lembrança remoendo um saudosismo dos olhos acastanhados da minha bem querença chamada Zefinha; Eh saudade...
Debrucei no meu pensar o seu rostinho abronzeado pelo sol escaldante do meu escaldado sertão.
Bebi gotas lamentosas de saudade solitária, remoendo no pensamento, cada pedaço de minuto que com ela compartilhei os idos anos acompanhados de alegrias em tê-la bem juntinho de mim. Eh saudade...
Ser sertanejo, é coisa de pele que se confunde com a aridez deste torrão avermelhado de fim de tarde, onde o sol beija o seio da mãe terra buscando repouso.
È o cunversê bem amatutado de cumpadi Rubião dibuiando as leotrías nas oiças dos escutantes, vividas pelos seus irmãos de lida e sina.
È o chêro do cuscuz de Sinhá Morena, regado ao café socado no pilão com o açúcar acanadado dos canaviás de seu Terto de Beltrão, Homi, mais rude e seco igual terras dos anos 15 ou 32.
Pra completar a prosa, os bolodórios, zuniam no vento frio aquecido pela fogueira que torrava em brasas o ajuntamento de palavras de quem ali se arreunia, prestando atenção nos dizeres.
Era um despejo de prosa boa, regado ao café bem fervido na queimança afogueirada que estalava num cripitar sonoro, caatingueiro. Eh saudade...
Lembrei-me do poeta Nininho de Uauá, ah se este cabra estivesse aqui e ponteasse seu melodioso violão as coisas que ainda conservamos do lado de cá.
Eu também venho de longe, de onde o sentimento amor, ainda prevalece nas palavras ditas por quem ama, e sinto o cheiro da perfumagem afulorada na caatinga, a turva noite em causos de malassombros, o piado como se agoradouro da coruja, arrepiando inté as almas dos viventes assustados.
Mas isso eram historias antigas, gostosas de ouvir. A juízo estonteado, ainda sinto o perfume destas noites sertanejas, mas só não sinto mais é a perfumança de Zefinha. Pois ela, “Igual ao seu cheiro” evaporou da minha vida até pros dias de nunca mais... nunca mais.
Sei falar palavras bonitas não moço, mas falo de amor pelo sentir do meu coração latejando de felicidades, ao lembrar-me de Zefinha, e pra isso não precisa letramento delicado não Sinhô.
 
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                 Correndo o trecho...
 
Correndo o trecho de minha vida, que nem sei bem onde vai dar, pus olhos sobre “Sertania”, deitei olhos arregalados na foto do cabra, pregada lá, no cume do texto,  de braços abertos como um Cristo na cruz... Sua face tão conhecida pela minha, pareceu-me contar histórias, apontar caminhos, que tão iguais aos meus, ele o Carlos, talvez também nem saiba onde vão dar. Seus olhos, que antes tocaram os meus, apontaram-me ares distantes, trouxeram-me imagens de gentes, das quais apenas conheço de ouvir falar.
Minha Maria, vez e outra, têm aberto a sua boca, para me contar de fantasmagorias, de histórias tão antigas, quanto àquelas narradas em “Sertania”.
Olhando o olhar distante do cabra na foto, pareceu-me ver entre as sombras da estrada que me abriga agora, tudo o que me conta a minha Maria, mais as histórias em “ Sertania”.
Estou correndo o trecho, que me coube nesta vida... Levando e levado pelas palavras em minhas poesias, hoje estou em Curitiba, o Carlos levado por sua cantoria onde será que estará?
Eu vou seguindo com meus trajes normais e modestos. Ele se veste e reveste de andrajos!
Minha figura vai correndo o trecho, procurando ser melhor do que eu mesmo o sou...
Ele, pela foto no cume do texto, não usa de artifícios nem de pretextos, é como é!
Eu que faço poesia, eu que faço de cada parada um palanque pelo qual alcance as almas das pessoas, deixo que me voe a alma, solta e á toa... Pássaro a procurar uma morada!
O cabra, o Carlos, que tem um tamborete num canto da sala, no qual ainda quero me sentar, surpreendeu-me e encantou. Sua imagem que me tocou as retinas ultrapassou veladas cortinas, caminhou  primeiro em meu cérebro para depois em meu coração se instalar...
Pareceu-me tão colorida, tão cativante, embora um pouco triste, mas tão vivaz!
Assim, eu que quando me recolho na cama, que deito de conchinha com minha Maria, aqui sob o frio de Curitiba, me senti abrasado pelos ares de lá! Carlos, meu cabra, queria estar contigo! Eu e Maria queríamos te abraçar! Sem falar que em correr o trecho, pouco a pouco no meu dia a dia,talvez nem tenha tempo de te reencontrar...
Medos das coisas estranhas da vida, estes sejam deixados prá lá... Estar frente a frente contigo, não comportaria tais melindres... Pois você é cabra de fibra! É cabra que procura vida, sem temer onde ela te levará!
Correr o trecho deixa pegadas... Um dia as minhas se misturaram com as tuas... Minhas palavras se confundiram com as tuas melodias... E pudemos sonhar!
As aves de arribação tão conhecidas tuas, ainda não tingiram o céu sob o qual você esta...
Você ainda ficará ai no extremo do mundo chamado Brasil, e eu ainda por alguns dias ficarei pelas bandas de cá! Sob o frio de Curitiba... Depois estarei sob a garoa de nossa São Paulo cinza!
Só, meu amigo, que eu que corro trecho após trecho, sempre a procura dum verso, para um novo poema declamar, senti-me tocado pelo teu texto. E encantado com a foto pregada no cume dele, e definitivamente, agora eu sei onde o verso, o poema está!
E eu que não sismo por falta de minha Maria, que não choro por saudades, tristezas e quetais, queria estar adentrando os teus quintais ai de “Sertania”, ia me sentar em teu tamborete, ouvir as tuas melodias, e com sorte, nós iríamos com o Nininho de Uauá nos reencontrar!
 

Edvaldo Rosa
www.sacpaixao.net
28/05/2011
 

 

 

Edvaldo Rosa
Enviado por Edvaldo Rosa em 28/05/2011
Alterado em 06/10/2011
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