E desde aquele instante estou de olhos naufragados em lágrimas! Com um nó na garganta, um aperto no peito! Não sabia bem o que estava sentindo, esperando que uma luz me indicasse o fim daquele túnel escuro, cheio de incertezas e pesares. Numa rádio uma música, embora os sentidos nem ali estavam fixados, o pensamento então vagava incerto! Meu corpo estático na frente da janela, meu pensamento em tormento, noutra esfera... O amor, ah! O amor... Apenas uma lembrança incerta que me assolava naquela hora! Amei, sim amei uma pessoa que a vida levará embora! Quantas incertezas agora! Quantos pesares neste meu peito e nesta minha mente! Quanto egoismo em um mesmo coração, que continha em si também um grande amor! Horas antes, você me deixava e partia, ante tanta dor e tanta tristeza. Eu, agora na frente da janela embaçada pela minha respiração, tenho lágrimas rolando face afora! Passo a mão em meus cabelos, descuidados, passo a mão por minha face, empalidecida agora: o futuro, incertezas e medos. Escondendo meu olhar entre os dedos, com medo de fitar o meu reflexo nos vidros da janela, meu pensamento é só dele: Por que o destino nos colocará em lados separados, por que estavamos tão distantes em nossas últimas horas? Que amor era aquele que nos fizera tão infelizes e estranhamente tão estranhos um ao outro? Não haviamos dados as mãos em outras horas? Não haviamos caminhado lado a lado por uma mesma estrada e numa mesma direção em outras horas? Mas agora você é passado! Agora sou apenas uma reflexo incerto na janela de minha sala... Estou só! Quem poderá entender esta solidão de agora? Quem entenderá os meus sentimentos e meus pensamentos desta hora? Como que com piedade pelas minhas lágrimas, chove lá fora! Um frio, me abraça o corpo inteiro! Recosto-me na parede! Enveredando por uma rede invisivel de sentimentos confusos, vou consumindo estas primeiras horas de solidão, de agora! Meu corpo ainda sente o calor do teu! Minha boca ainda sente o sabor do beijo teu! Até a força de seus braços naqueles longos abraços ainda sinto em mim... Um grito, em agonia, quer sair pela minha boca afora... Mas de que adianta o grito, se não tenho teus ouvidos agora? Minha boca louca, murmura teu nome... Palavras sem nexo agora! Minha mente te procura em si, lembranças outrora tão doces... Amargas agora! Súbito, a impressão de seu perfume ainda em mim, seu odor que antes muito me excitava, traz em mim uma raiva... Uma loucura! Súbito, a fumaça de seu cigarro, ainda fumegante no cinzeiro na mesinha da sala, traz em mim uma raiva... Súbito, percebo a tua foto na estante da sala, olhos profundos, olhos outrora tão lindos... Olhos fixos em mim agora, trazendo pra mim um grande sentimento de raiva! Tudo a minha volta remonta nossa história... E agora? E agora! Trêmula, caminho até a estante, titubeante, passo as pontas dos dedos pela tua face, exposta na foto, que tirei uns meses antes... Trêmula, aperto a foto contra o peito, ofegante! E só agora eu noto: Como teus olhos já se mostravam velhos e tristes uns meses antes! Eu nem tinha me dado conta de seu estado, e se agora choro, se agora só sinto raiva do que fomos, eu não tinha me dado conta de seus sentimentos... Estou só, chove lá fora, nossos velhos olhos,os teus e os meus, choram. Os meus em minha face com as cores esmaecidas, os teus, na foto em minhas mãos trêmulas... Ésó agora que percebo o fim de nossas vidas, ao encarar o que me restou de teus olhos, com um verdume triste! Só agora!