Caro Cara,
Espero ainda chegar no amanhã de teu email, aqui já virou para terça-feira, trago o que escrevi:
Caro cara,
Gosto desta leveza da Língua que sopra palavras iguais de forma diferente vindo desse lado do Atlântico, um amigo, nem é importante amigo ser, é um/a cara. A pessoa é a sua cara, uma coisa fácil de perceber, “está na cara”… tudo (se) simplifica.
A escrita pode ganhar contornos novos e definitivamente inovadores, onde a novidade é como a nuvem dando à luz natural cambiantes, naturalmente diferentes.
Espero que tenha orgulho em ser brasileiro, do mesmo modo que tenho de ser português. Gosto de ser filho deste povo com o seu quê de quase tudo, dizendo de si mesmo enquanto nação: «somos um país de poetas». Dizem isso e muito mais, mas isso basta para pôr em hasta pública a ideia de sermos o que somos, poetas? Sim, “Porque sim” é pouco, mas porque não? Serve, fica feita a introdução.
Você é o cara, meu amigo. Sejamos apenas: O cara & O amigo, Cara & Amigo.
O amigo,
Amigo
{experimentar não é só fazer a experiência, é radicalmente mais: ser radical}
Raiz – R
a i
z{R, um personagem com raiz na língua, indo de
a a
z, juntando
a i
z…}
Quero escrever para você de modo a interessar qualquer um pela nossa conversa, o nosso tema inicial ser o Assim é uma ideia que me agrada. A ideia de ter um “outro” como ponto de partida e convergência em nosso interesse comum, parece-me muito interessante.
Quanto a nós, produzirmos um diálogo pessoal e simultaneamente civilizacional, no encontro fraterno de dois representantes de povos habitando diferentes margens em distintos hemisférios dum mesmo planeta banhado por um mesmo oceano…
Desde logo fazer sentir a diferença nesta correspondência onde as pessoas passam a personagens para, como personagens, valerem o que valham como pessoas. Um prazer, (o) da amizade.
Lê-te com atenção, qualquer diferença será “liberdade poética” pronta a servir de análise para uma abordagem literária. Se a mesma não se puser, não for posta em evidência, vale a correspondência a funcionar ao nível público e/ou privado.
Para quem lê é muito bom poder imaginar que a realidade literária é criação, aperfeiçoamento, procurada beleza, podendo o seu resultado ser o gozo duma sensação plena de gosto e gozo, a bela expressão do brasileiro para dizer gostei: “beleza”.
Mais importante do que quem lê saber quem é você, é poder interessar-se por saber quem você é. Enquanto estivermos no será que é outro ou invenção sua, avançamos e a interrogação sobre se avançámos só vem dar uma certeza se tivermos a dúvida e algo lhe podermos responder de positivo.
Importante saber quem alguém é, quando esse alguém existe e tem identidade própria. Isto vai permitir-me enunciar um enfoque muito pessoal, dizer o que mais gostei do que vou dar a ler. Foi da clara percepção da sua/tua parte do Assim ser, Assim Mesmo.
Para mim o Assim é o Assim, mas, na verdade, ele é o Assim Mesmo. Como acabou por acrescentar ao nome com que se assina Assim, o nome de família Mesmo. Vou deixar de conversa, para passar à leitura.
«…»
Como já escrevi demais, só em abstracto respondendo ao que escreveste, eu irei reler e responder em função da leitura. O que fica veio, assim fica, envio. Saboreia o prazer deste movimento interior à realidade da palavra: «o que fica veio, assim fica, envio», implicitamente, está feita a aceitação dum diálogo que vá para algo mais que a escrita na compreensão da mesma.
Cá me assino, com este abraço
Amigo
{Não esquece assinar Cara, para alimentarmos a correspondência de Cara & Amigo; tens carta branca para publicar as “Cartas Brancas”? Poderás dar a medida fechada dos nomes, eu só publicarei depois de ver se o Cara aceita a parada.}
Amanhã, farei a leitura acompanhando teu texto!