QUANDO AS PALAVRAS CURAM...
Quando o poder leva o homem à arrogância, a poesia o lembra de
suas
limitações. Quando o poder limita os assuntos que o preocupam, a
poesia o lembra da riqueza de sua existência. Quando o poder
corrompe, a poesia purifica. Porque a arte estabelece as verdades
básicas da humanidade, que devem ser a pedra fundamental de nosso
julgamento.
John F. Kennedy
A leitura de um poema tem o poder de transformar um estado
emocional de maneira extraordinária e poderosa.
"Ler poemas pode ser um bom remédio contra a depressão e a
ansiedade". É o que sugere um estudo feito por médicos da
Universidade de Bristol, no Reino Unido. "Assim como a música, a
leitura de poemas é terapêutica e infinitamente superior a
qualquer comprimido", afirmou Alexander Maccara, presidente da Associação
Médica Britânica." Revista Cláudia, pág. 13, maio/94.
A poesia deve ter surgido nos primórdios da cultura.Vale
observar que os clássicos da poesia se escreveram com métrica,
sílaba tônica, rimas, e, portanto, escreveram-se poemas com formas
típicas, formas características. A certa altura da história a poesia se
ligou ao conceito de estética; depois surgiram, mais recentemente os
chamados versos brancos ou livres. Escrever versos brancos é um
exercício, um excelente jogo psíquico. A atividade lúdica é
insistentemente recomendada pela Psicologia Contemporânea. A
leitura dos versos com forma, todavia, encontra mais adeptos.
Ler um poema é algo semelhante a escalar uma montanha, pois lá de
cima dos versos ou da montanha se descortina uma paisagem mais
ampla e há sempre um convite a mais reflexão. A métrica, sílaba tônica e
rimas dos poemas funcionam como instrumentos de alpinismo para sua
leitura, uma motivação a mais para ler.
Estudos em Psicologia indicam que um poema pode transmitir
um significado holístico que não pode ser encontrado na prosa. O
impacto do poema depende do efeito das afirmações, do som das palavras e
da imaginação visual. Diferentes formas criativas de se escrever um
texto, através da poesia, podem transmitir níveis de comunicação
muito acima dos meios literais.
Aldous Huxley, escritor do século XX, disse: " Palavras são
o fio do qual puxamos nossas experiências". Escrever um poema pode
ajudar a conseguir uma nova perspectiva, uma sensação de controle
e compreensão, pode suprir uma necessidade instintiva de consolo,
sendo um primeiro passo para a recuperação de grandes traumas.
Através da poesia, pode-se explorar os símbolos da mente,
liberando a imaginação, invocando emoções e ligando-as a novas
imagens e formas de raciocinar. O ritmo das palavras pode modelar
emoções, colocando o leitor em espécie de estado semi-hipnótico. A
linguagem da poesia é memorável e por isso rapidamente acessível e
recuperável.
Em poesia, pode-se focalizar muito de perto um determinado
pensamento, sentimento, acontecimento ou pessoa. A combinação
apurada das palavras vai ajudar a aproximar-se de algum assunto. Assim
como, poemas curtos podem ser facilmente memorizados, metaforicamente,
podem ser digeridos rapidamente, de maneira que as imagens fiquem
na memória.
Escrever poesia desenvolve a capacidade de concentrar-se e
ser preciso, além de melhorar a capacidade de gerar imagens.
Das técnicas usadas em poesia, algumas podem ser citadas:
O imaginário: é uma linguagem descritiva ou figurativa, que
expressa as idéias parcimoniosamente e com a qual outras pessoas podem
facilmente estabelecer conexões.
A rima: é uma técnica de combinação, usada para memorizar frases.
O ritmo: Assim como na música, a linguagem também tem ritmo, uma
cadência ditada pela presença de palavras com sonoridade
semelhante.
É o jogo sonoro. É algo espontâneo, que traduz naturalmente um
texto escrito, mais perceptível no texto poético, mas também aparecendo
no texto em prosa.
A linguagem: escolher as palavras adequadas exige alguma
habilidade, pois se usadas de modo correto definem sentimentos, e realinham o
mundo emocional em que se vive.
A criatividade é que torna a escrita interessante, mostrando o
mundo sob diferentes faces. Pode abrir as comportas da percepção para
ver a realidade de maneira ampla. Fazer descobrir o inusitado até mesmo
onde parece existir o banal.
QUANDO O CORPO DANÇA A POESIA OU A MÚSICA
A EURITMIA é uma nova forma de dança que vem sendo desenvolvida
desde 1912 e baseia-se no conhecimento do homem e do mundo como
apresentado na Ciência Espiritual de Rudolf Steiner, a Antroposofia. Seus
movimentos são coreografias, solísticas ou grupais, sobre a linguagem
poética, em verso ou em prosa, e sobre a música instrumental
tocada ao vivo.
O nome EURITMIA foi proposto por Marie Steiner para a nova dança
que surgia, mas existe como palavra e como conceito desde a Época
Clássica na Grécia. Em sua obra de nome "Kanon", o conceituado
escultor de Argos, Polykleitos (440 A.C.), define extensamente o
conceito eurythmia como o equilíbrio de forças atuantes no corpo
humano; eu-rhythmós – o ritmo equilibrado, belo, harmonioso é uma
categoria estética oculta das Artes Plásticas. Também o arquiteto
romano Vitruv (25 A.C.) utiliza o conceito "euritmia",
relacionando-o com a harmonia na arte de construir. Na Época Clássica de
Weimar
(1786-1832) surge novamente o nome Eurythmie, cujo conceito é
definido por Herder como a "ordem benfazeja de um centro em
relação a dois extremos"
Ao retomar esse termo quando da criação da nova arte de movimento
antroposófica, 2500 anos depois do eu-rythmós da Grécia, empreende-
se uma ampliação do conceito Eurythmia: as forças que configuram as
formas plásticas da escultura e da arquitetura são transformadas
em movimento, libertas! Com o acréscimo do elemento temporal ao
conceito outrora espacial, a Euritmia de Rudolf Steiner passa a revelar um
acontecimento plástico-musical, o desenrolar das forças atuantes
na forma humana quando seu corpo dança a poesia ou a música.
A Euritmia vem sendo amplamente desenvolvida, especialmente na
Europa (Alemanha, Holanda, Suíça e Inglaterra), desde o início deste
século.
Inúmeras pesquisas nas áreas da Educação e da Medicina de
inspiração antroposófica levaram à sua adoção no currículo das mais de 400
Escolas Waldorf em todos os continentes e como complemento
terapêutico em diversos países. Como arte ela se propõe a
pesquisar o movimento intrínseco da linguagem poética e da música, como ele
se
configura no fluxo da fala e no desenvolvimento dos sons, com
todos os seus matizes de sentimento, levando também em consideração o
conteúdo específico expresso pelo poeta ou pelo compositor. Esse
elemento artístico-plástico da fala e da música é transposto para
o espaço cênico através do movimento coreográfico, complementado
pelas cores das indumentárias e da iluminação. Simultaneamente com
recitação ou música ao vivo a Euritmia dança, assim, o
desenvolvimento dos sons de poesias e músicas, em toda sua
complexidade.
A LEITURA COMO FUNÇÃO TERAPÊUTICA
A BIBLIOTERAPIA clássica admite a possibilidade de terapia por
meio da leitura de textos literários. Contempla a leitura de histórias
e os comentários adicionais a ela. Propõe práticas de leitura que
proporcionem a interpretação do texto. O fundamento filosófico
essencial da biblioterapia é a "identidade dinâmica". O processo
de identificação do leitor/ouvinte vale-se da introjeção e da
projeção.
Parte-se do pressuposto que toda experiência poética é catártica e
que a liberação da emoção produz uma reação de alívio da tensão e
purifica a psique, com valor terapêutico.
A função terapêutica da leitura admite a possibilidade de a
literatura proporcionar a pacificação das emoções. Remontando a
Aristóteles, observa-se que o filósofo analisa a liberação da
emoção resultante da tragédia – a catarse. A leitura do texto literário,
portanto, opera no leitor e no ouvinte o efeito de placidez, e a
literatura possui a virtude de ser sedativa e curativa.
A relação entre psique humana e literatura não é nova. Foi,
inicialmente, alicerçada pelas emblemáticas observações
psicanalíticas de Freud sobre a escrita como arte poética desde os
gregos até alguns de seus representantes modernos como Shakespeare
e Dostoiewski. Posteriormente, recebeu uma análise de Jung, que viu
em Goethe, Spitteler, Nietzche, Blake e Dante personalidades
criativas e transformadoras do mundo.
Assim, pode-se dizer que existe uma terapia por meio de livros.
Tal terapia recebe o nome específico de biblioterapia, originada de
dois termos gregos biblion – livro, e therapeia – tratamento.
O conceito de biblioterapia envolve a prescrição de materiais de
leitura que auxiliem a desenvolver maturidade e nutram e mantenham
a saúde mental. Romances, poesias, peças, filosofia, ética,
religião, arte, história e livros científicos. Apresenta como objetivos:
permitir ao leitor verificar que há mais de uma solução para seu
problema; auxiliar o leitor a verificar suas emoções em paralelo
às emoções dos outros; ajudar o leitor a pensar na experiência diária
em termos humanos e não materiais; proporcionar informações
necessárias para a solução dos problemas, e, encorajar o leitor a encarar sua
situação de forma realista de forma a conduzir à ação. Indivíduos
são personalidades integradas e, portanto, devem ser vistos como um
todo do ponto de vista emocional e intelectual. A literatura ficcional
é um meio de afetar o ajustamento total do indivíduo. Outros usos da
biblioterapia tem sido feitos, como em auxílio no tratamento
psicoterápico, através da leitura que busca a aquisição de um
conhecimento melhor de si mesmo e das reações dos outros,
resultando em um melhor ajustamento à vida. Direcionando a biblioterapia para
a infância, há estudos que aplicam a terapêutica da leitura,
proporcionando uma forma das crianças comunicarem-se, perderem a
timidez, de exporem seus problemas emocionais e mesmo físicos.
A linguagem em movimento, o diálogo, é o fundamento da
biblioterapia.
O plurarismo interpretativo dos comentários aos textos deixa claro
que cada um pode manifestar sua verdade e ter sua visão do mundo.
A biblioterapia tem sido utilizada em hospitais, prisões, asilos,
e no tratamento de problemas psicológicos em crianças, jovens,
adultos, deficientes físicos, doentes crônicos e viciados.
A biblioterapia constitui-se em uma atividade interdisciplinar,
podendo ser desenvolvida em parceria com a Biblioteconomia, a
Literatura, a Educação, a Medicina, a Psicologia e a Enfermagem.
Tal interdisciplinaridade confere-lhe um lugar de destaque no cenário
dos estudos culturais. É um lugar estratégico que permite buscar
aliados em vários campos e um exercício aberto a críticas, contribuições e
parceiras.
A terapia ocorre pelo próprio texto, sujeito a interpretações
diferentes por pessoas diferentes.
No Brasil, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), vem
promovendo atividades culturais, realizadas por equipes de
voluntários. O Grupo de Poetas Livres, de Florianópolis, inaugurou
o projeto com um recital poético. Depois dele vieram outros, como,
por exemplo, o grupo teatral Ação e Reação.
A organização desses eventos artísticos está a cargo da Sala de
Leitura Salim Miguel, que fica dentro do Hospital
Universitário. "Precisamos mostrar aos doentes que hospital não é
o 'fim' e, sim, parte de um processo; que eles não estão
condenados à morte. Queremos apresentar a todos as belezas da vida, a alegria
de viver", afirma a coordenadora da Sala de Leitura, Eva Maria Seitz,
que há 26 anos trabalha no Hospital Universitário como técnica de
enfermagem, tendo se formado em Biblioteconomia há 10 anos. Os
eventos culturais são direcionados aos pacientes e também aos seus
acompanhantes. Segundo a coordenadora, os resultados têm sido
muito satisfatórios. A Sala de Leitura do HU foi inaugurada no dia 8 de
novembro de 2005. Ela é uma das 208 salas já implantadas em todo o
país pelo projeto Sala de Leitura, apoiado pelo Ministério da
Cultura, por meio da Lei Rouanet. Até dezembro de 2006, 22
estados vão estar contemplados pelo projeto e 390 salas estarão em pleno
funcionamento.
A biblioterapia contempla não apenas a leitura, mas também o
comentário que lhe é adicional. Assim, as palavras se seguem umas
às outras – texto escrito e oralidade, o dito e o desdito, a
afirmação e a negação, o fazer e o desfazer, o ler e o falar – o que conduz à
reflexão, ao encontro das múltiplas verdades, em que o curar se
configura como o abrir-se a uma outra dimensão.
(VG)
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O texto acima reuniu referências de várias fontes:
Livros:
Fundamentos de ARTETERAPIA, de Daniel Brown, 1997, Ed. Vitória
Régia.
Criatividade e Novas Metodologias, vol. 04, temas transversais,
1998,
Ed Fundação Peirópolis.
Artigos:
POESIA: FORMA E FORMAÇÃO - de Diógenes Pereira de Araújo,
publicado
em 16/05/2006 em http://www.psicopedagogia.com.br
EURITMIA - de Marília Barreto Nogueira, publicado em 10/03/1998.
A LEITURA COMO FUNÇÃO TERAPÊUTICA: BIBLIOTERAPIA, de Clarice
Fortkamp
Caldin (Mestre em Literatura –UFSC, 2001 - Professora do
Departamento
de Ciência da Informação da UFSC).
http://www.cultura.gov.br/noticias - seção Sala de Leitura,
notícia
de 10/04/2006
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Texto recebido por email do grupo:
"PoetiKa & Textos",
http://br.groups.yahoo.com/group/PoetiKa_e_Textos
divulgando somente textos COM AUTORIA. Atravêz da colaboração de
Vera
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Edvaldo Rosa
Enviado por Edvaldo Rosa em 15/07/2006
Alterado em 16/07/2006